domingo, 1 de junho de 2008

Entrevista com uma Jurada

hoje entrevistando
Anna Fortuna representante dos cartunistas






Como é ser um jurado que seleciona os finalistas de um salão de humor?

É uma trabalho de imensa responsabilidade mas também muito prazeroso. Pude constatar que a qualidade do desenho de humor brasileiro está muito acima do que eu realmente imaginava. Logicamente que nesse sentido fica difícil premiar, mas eu fiquei satisfeita com a decisão final do júri como um todo.

De um modo geral, o que voce achou do processo de seleção, das categorias, e dos finalistas que chegaram ao juri?

Gosto muito desse trabalho, de estar nos ‘bastidores’, e participando de um salão conhecido e reconhecido como esse, a gente percebe como realmente as coisas se passam. Eu nunca achei que houvesse ‘panelinha’ em salão nenhum e sendo agora jurada, menos ainda, e me pergunto o que realmente significa isso pras pessoas que acreditam nisso. Num júri de cinco pessoas como o nosso, quase que cada uma de uma geração, com uma história, referências distintas e vindo de lugares tão diferentes, como poderia haver algum tipo de combinação?

Sobre as categorias, você já publicou aqui no blog, Ricky, dei a a sugestão de textos de humor, para acolher aqueles que escrevem mas não desenham, a não ser bonecos-palitos, como eu (!).

Sobre os finalistas que chegaram ao júri, vi trabalhos realmente bons ali e outros que considerei médios, então confiei totalmente na pré-seleção do Salão.


Entre os premiados, houve algum trabalho que tivesse te cativado de maneira especial?

O julgamento sempre passa por algo também pessoal, por referências muito subjetivas. Nesse sentido, os trabalhos do Daniel Lafayette e do Jean, que são meus colaboradores na Garatuja’s, logicamente que me agradaram muito. O Lafayette tem um humor muito especial e esse prêmio pra mim é a confirmação do seu talento. Ele tem tudo pra crescer. O Jean é pra mim o maior cartunista da sua geração, o outro, de outra geração, seria o Nani, que não por acaso, também é meu colaborador. Nesse sentido também, das referências, a caricatura do Marilyn Manson, do Leite, muito me impressionou, pois pra mim esse estilo seria o futuro ideal da caricatura: poucos traços, não-realismo, reconhecimento imediato. Outro trabalho que me impressionou bastante foi a caricatura do Millôr-Lula-Molusco, do Sama, eu passei mal de tanto rir quando a vi. Esse seria outro ponto para o futuro da caricatura pra mim: tem que ter graça. Achei especialmente iluminada também a charge Pole position, do Rucke.


Entre os que não chegaram a ser premiados, você tinha algum favorito, um desenho que poderia perfeitamente estar na premiação se não fossem apenas cinco?

Gosto de muitos trabalhos ali, mas gostaria de destacar o da Maria, não poderia deixar de perceber uma mulher caricaturista que não teria outra oportunidade de ver o trabalho se não fosse o Salão. Ela já ganhou o Salão com a Daiane dos Santos e esse ano está no prêmio catálogo com uma caricatura do Juscelino. Lembro que a Ana Pinta nos chamou atenção para o seu trabalho em aquarela, então se o Salão serve como incentivo para as pessoas, que esse sirva para o seu aprimorar, em meio a tantos photoshops que vemos por aí. Nada contra, mas que nunca percamos de vista a beleza de um trabalho digamos, mais ‘artesanal’.


Qual o conselho que você daria para um artista iniciante que queira participar do próximo concurso do Salão Carioca?

O conselho que dou é: não deixem de participar, pois embora alguns ainda insistam em falar em ‘cartas marcadas’, não é o que realmente acontece. E dou o exemplo, esse ano, do Hemetério, que ninguém do júri conhecia e ninguém também se preocupou com isso. Privilegiamos o trabalho, que é realmente bom e demos o primeiro lugar em cartum a ele. Veja bem, no caso não julgamos nem o trabalho dele, e sim somente o trabalho enviado. Não deixando logicamente de perceber a excelência de um Dálcio, um Baptistão. Mas como, repito, privilegiamos o trabalho, o iniciante que é bom, vai estar ao lado do um cara que já está aí há muito tempo e também pode ser muito premiado. Isso só pode ser positivo. Acredito que premiar em salões é uma forma de incentivar a produção tanto dos iniciantes quanto de quem já está aí há algum ou muito tempo. Embora esse ano eu tenha visto o esforço da organização no sentido do incentivo, na forma dos prêmios-catálogos e maior número de trabalhos que vão participar da exposição, não dá logicamente pra premiar todo mundo nem todos os trabalhos, porque é realmente muita gente. Prêmio é importante mas não ganhar não desmerece de forma alguma ninguém pois tenho a consciência de que prêmio é uma coisa e trabalho é outra. Esse é o ponto, portanto, participem.








- fotos de Ana Pinta

(clique nas imagens para ver melhor)